Perguntas Frequentes

O que é a Perturbação do Espectro do Autismo (PEA)?

É uma perturbação do neurodesenvolvimento, caraterizada por défices na interação social recíproca, na comunicação verbal e não verbal, assim como pela presença de comportamentos e interesses restritos e/ou estereotipados. Trata-se de uma perturbação complexa e diversificada, que se manifesta pela combinação de vários sintomas, num contínuo de gravidade de maior ou menor intensidade, daí a utilização do termo “espectro”. Muitas vezes é usado o termo genérico autismo, quando se quer fazer referência à PEA.

Quais são as principais caraterísticas da PEA?

  • Limitação na reciprocidade social ou emocional;
  • Dificuldade no uso de comportamentos não verbais, como contato ocular, expressão facial, gestos;
  • Reduzida tendência para partilhar prazeres ou interesses com os outros;
  • Incapacidade para desenvolver relações com os seus pares, adequadas ao seu nível de desenvolvimento;
  • Atraso ou ausência no desenvolvimento da linguagem oral, não sendo este acompanhado por tentativas de compensar através de gestos ou mímica;
  • Dificuldade em iniciar ou manter uma conversação;
  • Défice no jogo simbólico e na imitação;
  • Linguagem repetitiva ou idiossincrática (uso peculiar e próprio de palavras, só entendido pelo próprio ou por familiares muito próximos);
  • Movimentos corporais estereotipados e repetitivos (ex.: andar em bicos de pés, abanar as mãos, etc.);
  • Interesses absorventes, fixos e invulgares;
  • Adesão inflexível a rotinas não funcionais, comportamentos verbais e não verbais ritualizados;
  • Preocupação absorvente com partes ou qualidades sensoriais de objetos ou uso repetitivo e estereotipado dos mesmos;
  • Hipo ou hipessensibilidade ou comportamentos sensoriais atípicos (aparente insensibilidade à dor/frio/calor, resposta exacerbada a sons ou texturas, cheiro ou toque execssivo em objetos).

Quais os sinais de alerta de uma PEA?

A PEA surge precocemente na infância, aparecendo na maioria dos casos antes dos 30 meses, sendo que vários estudos descrevem que os pais notam alterações no desenvolvimentos dos filhos entre os 16 e os 20 meses de idade. Contudo, se o atraso de desenvolvimento for grave, os sintomas podem ser reconhecidos muito antes dessa idade.
Alguns dos sinais precoces de uma PEA são os seguintes:

  • Ausência na resposta ao nome;
  • Atraso no desenvolvimento da linguagem;
  • Dificuldades no contato ocular;
  • Dificuldades na atenção conjunta (partilhar a atenção de outra pessoa acerca de um objeto ou acontecimento, olhando alternadamente para o objeto e para a pessoa);
  • Dificuldades em sorrir como resposta a uma sorriso;
  • Dificuldade em apontar e procurar a partilha social;
  • Pobre relação com o outro, focando-se mais nos objetos;
  • Isolamento (falta de desejo de estar perto das outras pessoas);
  • Diminuição ou mesmo ausência na utilização de gestos como apontar, dizer adeus, mostrar, estender os braços para ser pegado ao colo.

O que causa a PEA?

Nas últimas décadas e principalmente nos últimos anos, a pesquisa científica na área da PEA tem sido imensa. Contudo, ainda pouco se sabe sobre a verdadeira causa da PEA, existindo vários estudos e teorias.
Atualmente, é quase unânime a opinião dos especialistas quanto à sua origem multifatorial e heterogénea, devendo ser considerada uma combinação de fatores genéticos, o que vai conduzir a uma variação na apresentação comportamental da PEA. Existirá, segundo alguns autores, uma base genética, responsável pela suscetibilidade para a perturbação, ocorrendo sobre esta, a ação de fatores ambientais, que poderá ser favorável ou desfavorável.
Outros estudos salientam também que é possível encontrar alguns traços ligeiros de PEA em familiares próximos, sublinhado também a componente hereditária. A maior parte dos estudos científicos conclui também que se trata de uma perturbação do neurodesenvolvimento com uma disfunção orgânica cerebral subjacente.

Os casos de PEA têm aumentado nos últimos anos?

Na generalidade, os autores dos estudos concordam que os casos de PEA têm aumentado nos últimos anos. No entanto, são dadas também algumas explicações para este aumento, entre as quais:

  • Melhor conhecimento desta perturbação entre os pais, profissionais de saúde e população em geral, o que leva a que os casos sejam avaliados e diagnosticados mais precocemente;
  • Maior clareza na definição dos critérios de diagnóstico da perturbação, o que permite que crianças com mais capacidade sejam diagnosticadas com PEA, em detrimento da inclusão quase exclusiva dos casos mais graves;
  • Criação de mais e melhores instrumentos de diagnóstico.

Contudo esta questão levanta alguma polémica, e alguns autores referem que não existe um suporte epidemiológico que confirme que efetivamente os casos de PEA têm vindo a aumentar.

Qual é a prevalência da PEA?

Segundo a APA, em 2007, existiam na Europa e Estados Unidos da América 6 casos de PEA em cada 1000, sendo o número de casos superior no sexo masculino.
Em Portugal, foi efetuado um estudo, em 2007, no qual se concluiu que ocorreria 1 caso em cada 1000, em idade escolar.
Nos Estados Unidos da América, os dados mais atuais referem que 1 em cada 68 crianças é diagnosticada com PEA.

Como é feito o diagnóstico de uma PEA?

A avaliação e diagnóstico de uma criança com PEA é uma tarefa complexa.
Quando procuram ajuda, os pais podem ser, em primeiro lugar encaminhados para consultas da especialidade, de modo a que os seus filhos possam ser observados e avaliados. Segundo a Academia Americana de Pediatria, quando se observam sinais de uma PEA deverá ser efetuado um rastreio sensorial (oftalmológico e auditivo). Isto prende-se com o facto de estes défices poderem ter como resultado um atraso na aquisição da linguagem, agitação motora, dificuldades de compreensão e comportamentos atípicos que podem ser confundidos com os sintomas de uma PEA. Muitas vezes, poderá ocorrer o encaminhamento para consultas de Neurologia, devido à ocorrência frequente de problemas neurológicos na criança com PEA (como epilepsia ou outras). Pode ser também efetuado um despiste genético, com encaminhamento para consulta da especialidade.
O diagnóstico de uma PEA deverá ser o resultado de uma avaliação clínica, por um Médico especialista, com a colaboração de uma avaliação efetuada por uma Equipa Multidisciplinar, composta por Psicologia, Terapia da Fala, Terapia Ocupacional, Psicomotricista, entre outras.
A avaliação deverá ser baseada na história de desenvolvimento, relatos dos pais, observação e avaliação da criança em questão e do seu comportamento em diferentes contextos. Deverá ser, também, submetida a uma avaliação formal, com a aplicação de testes de rastreio, de diagnóstico e de avaliação de competências.

Quais os critérios atuais de diagnóstico?

As caraterísticas da PEA estão descritas em sistemas de classificação, como o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, ou seja, Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais da American Psychiatric Association (APA)) ou o CID (Manual de Classificação Internacional das Doenças). O sistema mais usado pelos clínicos é o DSM.

Até 2013, eram usados os critérios de diagnóstico do DSM-IV-TR, sendo estes os seguintes:

  • Défice na comunicação;
  • Défice na interação social;
  • Padrões de comportamento, interesses e atividades restritos, repetitivos e estereotipados.

Contudo, em maio de 2013, foi lançado na reunião anual da APA (American Psychiatric Association (APA)), nos Estados Unidos da América, o DSM-V, que veio trazer algumas mudanças. Com este passam a existir apenas dois grupos de critérios de diagnóstico para a PEA:

  • Défices persistentes na comunicação social e interação social, em vários contextos (no qual estão incluídas as perturbações na comunicação, interação social, dificuldades na imaginação);
  • Padrão de comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos.

No DSM-IV-TR existiam cinco sub-tipos de Perturbações do Espectro do Autismo - Perturbação Autística, Perturbação de Asperger, Perturbação Desintegrativa da 2ª Infância, Perturbação de Rett, Perturbação Global de Desenvolvimento sem outra especificação. Contudo, com a introdução do DSM-V, passa a existir um só diagnóstico correspondente à PEA, sendo usados critérios de severidade, de acordo com a variabilidade de sintomas: leve, moderado ou grave. A Perturbação de Rett é excluída da PEA (passa a ser considerada uma entidade própria), devido à sua base genética conhecida.

Porque é que se usam algumas medicações para as pessoas com PEA?

A medicação não é utilizada para curar a PEA, pois esta ainda não tem cura conhecida. O objetivo principal deste tipo de tratamentos é o controlo de um sintoma em particular, de um conjunto de manifestações clínicas ou de outro problema associado à PEA. Assim, a medicação é usada nos casos de PEA para tratamento de epilepsia, problemas gastrointestinais, alterações de comportamento, problemas de sono, sintomas psiquiátricos associados, etc.

Fonte:

American Psychiatric Association (2002). DSM-IV-TR – Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais (4ª Edição, Textos revisto) (Almeida, J. N., Tradução, Figueira, M. L., Revisão técnica). Lisboa: Clempsi Editores. (Publicação Original em 2000).
Coelho, A.M., & Aguiar, A.I. (2011). Intervenção psicoeducacional integrada nas perturbações do espetro do autismo: Um manual para pais e professores. Porto: Edição de Autor.
Grzadzinski, R., Huerta, M. & Lord, C. (2013). DSM-5 and autism spectrum disorders (ASD’s): an opportunity for identifying ASD subtypes. Molecular Autism, 4 (12).
Lima, C. (2012). Perturbações do Espectro do Autismo – Manual prático de intervenção. Lisboa: Lidel – edições técnicas.